D_m_ngo

Gabriela Aparecida de Oliveira
2 min readJan 3, 2021
Ilustração daqui.

Domingo, um grande vazio
A ser preenchido
Uma corça me espia de longe
E não quero caçá-la
Enfim, a coragem
De escrever alentos
Fazer de um café quente & sem açúcar
O maior evento do dia
Observar de hora em hora as roupas
Secarem no varal
Queria poder fazer o mesmo
Com a minha solidão
Mas ela está sempre úmida
De desejo

A pia cheia de louça
Pequenas poças de água
Em cada xícara e copo
Um pouco de sabão nos pratos
Reclama que não pode
Limpar tudo sozinho

Olho pela janela e não vejo
Mais do que nuvens monótonas
Mas se você prestar a atenção
Me disseram
Elas vão te dar um sinal
Que não é o de chuva
Talvez dirão de uma tempestade
Que está dentro de você
Eu me queixo que não consigo
Pulo de um a outro minuto
Como se de uma hora a outra
Procurando salvação
Para as minhas inquietudes

O desfecho disso só pode ser
Um poema e toda a minha pretensão
De ser num domingo
Existir já existo
E comprovo ao fechar os olhos
As cortinas da alma
A ouço tremeluzindo
Pássaro que se instala
No meu próprio ninho
Este que criei em vinte & poucos anos
Cada um dos gravetos
Algo que tive
De aprender-para-não-morrer

Nesse ano, aumentaram consideravelmente
De número e de tamanho
Cresceram minhas estratégias de viver
O domingo me revela um lugar só meu
Que ocupo ora com delicadeza
Ora com desconforto
Aceno para a segunda-feira
Ela me promete algo morno
Mais descomplicado
Me agarro a isso como à uma
Tábua de salvação
Mal sabendo eu que a segunda-feira
Também é uma invenção.

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